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sábado, 24 de março de 2012

Textos publicados em C de...


Definir conceitos é essencial para que nos entendamos a comunicar. Para que saibamos do que estamos a falar.

Estes textos foram publicados, nas datas indicadas, no Blogue C de...  no separador Conceitos

22 de março de 2012


As classes sociais e a luta de classes

A sociedade é composta por pessoas, cada uma, com a sua forma de se relacionar socialmente com as outras

Existem os muito ricos, os muito pobres e todas as situações intermédias. Esta classificação tem como base de partida a propriedade material de cada pessoa. Os muito ricos têm propriedades que equivalem a dinheiro que lhes permite obter outros bens. Os muito pobres, não tendo bens, nem dinheiro não podem obter nada.  

Contudo, todas as pessoas possuem capacidades próprias, como a inteligência e a capacidade de a usar para produzirem ou obterem bens de que necessitam. Mas os muito ricos para além dessas qualidades têm o poder que o dinheiro lhes proporciona.

Comprar o trabalho de outros

Os muito ricos, ainda que tenham a capacidade de trabalhar, podem obter bens comprando os bens produzidos pelo trabalho de outros. Isso permite-lhes um poder que os diferencia dos que têm que vender o seu trabalho para sobreviver. 

Os muito pobres, para obter bens, e não dispondo de dinheiro ou outros bens que possam trocar, são obrigados a trabalhar, a produzir para que possam trocar o que produzem pelos bens que precisam. Comida, vestuário, abrigo, etc.

Com a evolução da sociedade, tornou-se impossível que cada pessoa sem dinheiro possa fabricar os bens de que necessita. Terá portanto que produzir algo em quantidade suficiente para trocar por outros bens essenciais para a sua vida. Mas a sociedade evoluiu e as trocas directas foram substituidas por trocas de dinheiro que por sua vez se poderá trocar com qualquer bem necessário, produzido por outra pessoa. 

A revolução burguesa e a revolução industrial

Antes da revolução industrial, a classe mais rica e com poder sobre os que trabalhavam eram os proprietários de terras que as "arrendavam" aos camponeses.

A contínua evolução da sociedade permitiu que o trabalho de produção se fizesse com a ajuda de máquinas. Quem conseguisse ter máquinas poderia produzir muito mais em menos tempo. Por isso estaria em vantagem, poderia fazer preços mais baixos e, concorrendo com os artesãos que faziam as mesmas coisas à mão, acabaria por os arruinar uma vez que estes não poderiam fazer a quantidade de dinheiro necessária para adquirir os bens para a sua sobrevivência. 

O artesão que fazia colheres

Um artesão, que fazia 10 colheres, 10 garfos e 10 facas por dia e vendia cada peça por 2 euros, ao fim do dia "facturava" 60 euros que chegavam para comprar a matéria prima e sustentar a família.
Imaginou uma prensa que lhe poderia facilitar o trabalho mas não tinha dinheiro para a construir. 

Um proprietário de terras, com bens e dinheiro, soube do sonho do artesão e encomendou a outro ferreiro uma prensa para fazer colheres. Contratou um trabalhador para trabalhar com a prensa e assim passou a produzir 500 colheres por dia. Vendendo as colheres a 1 euro, ganhava o suficiente para pagar 40 euros ao trabalhador mais 200 euros de matéria prima e ainda ficava com 260 euros por dia para si.

O artesão que fazia as colheres facas e garfos passou a fazer apenas facas e garfos pois o dono da prensa que tinha um operário a trabalhar inundou o mercado com colheres mais baratas.

O industrial de talheres

Mas o dono da prensa, que diariamente arrecadava 260 euros, amealhou 100 euros, gastando em bens para a sua vida pessoal "apenas"160 euros. Com os 100 euros amealhados em cada dia, mandou fazer mais uma prensa para produzir garfos. 

Com essa prensa contratou mais um trabalhador e passou a produzir diariamente 500 colheres e 500 garfos. Vendeu os garfos também a 1 euro e assim facturou por dia 1000 euros.
Desses 1000 euros, pagava 80 aos dois trabalhadores, gastava em matéria prima 400, aumentou-se para 200 euros e guardou 320 para comprar uma prensa para fazer facas. 

É evidente que o artesão que fazia facas à mão e nunca teve dinheiro para comprar uma prensa, teve que fechar a sua oficina e ofereceu-se ao dono das prensas para trabalhar com a sua máquina de fazer facas. O dono das prensas sabendo que o artesão não tinha alternativa, ofereceu-lhe apenas 35 euros por dia. O artesão teve que aceitar. 

De concorrente a monopolista

Assim, o dono das prensas de fazer colheres facas e garfos, tendo eliminado a concorrência dos artesãos subiu o preço dos talheres para 1,5 euros. Apesar disso os preços de venda eram mais baratos do que os dos artesãos e estes ganhavam quase o mesmo que trabalhando manualmente, quando vendiam cada talher a 2 euros.

Parecia que deviam estar todos satisfeitos. O dono das máquinas passou a facturar 2250 euros por dia, a pagar 115 euros aos operários, a gastar 750 euros na matéria prima e a lucrar 1385 euros por dia.

Do ponto de vista de remuneração, a perca dos operários não foi grande. Contudo pensavam:
Nós fizemos as máquinas, trabalhamos com elas, ganhamos 40 euros por dia e o patrão que pouco trabalha, mas teve dinheiro para comprar as máquinas ganha 1385 euros por dia.  

Alguma coisa deve estar mal

Tinham a noção de que algo não era justo, mas parecia-lhes que tinha que ser assim, porque sempre assim foi. Até que apareceu alguém que, estudando a forma como a sociedade estava organizada concluiu:

As relações de produção regulam a distribuição dos meios de produção, dos produtos e a apropriação dessa distribuição e das mais valias do trabalho. Elas expressam as formas sociais de organização da produção e, dessas relações, resulta a divisão de classes na sociedade. Os que têm os meios de produção e os que apenas vendem o seu trabalho.

O processo produtivo aliena o trabalhador, já que é forçado a produzir para poder sobreviver. O trabalhador não podendo dispor dos meios de produção (as máquinas e as fábricas), não pode sobreviver autonomamente.

Descoberta a ponta da meada...

Uns (poucos) formam a classe que domina, outros (muitos) a classe dominada que está dependente dos que têm os meios de produção. Estes, proprietários, estão em vantagem e impõem as regras.
Ainda que sendo poucos, têm o poder e dominam também o Estado. Através dessa infraestrutura, condicionam o desenvolvimento de valores morais, ideologias, leis e normas reguladoras, sejam elas políticas, religiosas, culturais ou económicas, de acordo com a conveniência e interesses da sua classe, dos proprietários dos meios de produção.

Esse senhor, que estudou o processo histórico da evolução da sociedade, percebeu que a revolução burguesa não aboliu as contradições entre as classes, e apenas substituiu as antigas relações de exploração do trabalhador. 
Por isso, essa evolução para o sistema capitalista, tem também contradições internas que irão desencadear novas transformações sociais. 

... é fácil "adivinhar" o futuro

Esse senhor, de barbas, que também estudou as leis de transformação da sociedade, concluiu que a classe explorada, aquela que apenas tem a força do trabalho para vender para sobreviver, mas que tudo produz, classe a que chamou "proletariado", quando tomar "consciência de classe", libertar-se-á do determinismo histórico e passará a ser agente da transformação social, que acabará com a divisão da sociedade em classes.

Esse senhor, chamado Karl Marx, concluiu também que as contradições existentes nesta sociedade, serão agravadas com a proletarização cada vez mais acentuada dos que não são detentores dos meios de produção e com a concentração destes meios num número cada vez menor de muito ricos. Isso aumentará as desigualdades, o número dos pobres, em contraste com a concentração de bens e riquezas em alguns (poucos) que dominarão grandes centros financeiros e industriais. 

Serão estas contradições que darão origem a uma nova revolução social, a revolução socialista. Como? logo se verá! Os trabalhadores  encontrarão o melhor caminho.



18 de janeiro de 2012


KARL MARX: SOCIALISMO E COMUNISMO

No blogue do Professor Luis Rodrigues "Teorias e Argumentos" dedicado à publicação de materiais para o ensino da filosofia, encontrei estes textos que considerei importantes para esclarecer conceitos que são mal entendidos por muita gente. No sentido de facilitar a leitura e o enquadramento dos vários conceitos coloquei sub-títulos, da minha responsabilidade:

Comunismo

"O que caracteriza o comunismo não é a abolição da propriedade em geral, mas a abolição da propriedade burguesa (isto é, do capital, da propriedade privada que explora o trabalho assalariado e que só pode crescer sob a condição de produzir mais e mais trabalho assalariado, para o explorar de novo).

Ora a propriedade privada de hoje, a propriedade burguesa, é a última e a mais perfeita expressão do modo de produção e de apropriação baseado no antagonismo de classes, na exploração de uns por outros. Neste sentido, os comunistas podem resumir a sua teoria nesta fórmula única: 
 
Abolição da propriedade privada dos "meios de produção"

Nós não queremos de modo algum abolir aquela apropriação pessoal dos produtos do trabalho indispensável à reprodução da vida no dia seguinte, apropriação essa que não deixa nenhum lucro líquido que possa conferir um poder sobre o trabalho de outrem. O que nós queremos é suprimir o triste modo de apropriação que faz com que o operário não viva senão para fazer crescer o capital (a riqueza do burguês, do patrão explorador) e só vive enquanto o exigem os interesses da classe dominante.

As leis, a propriedade privada e o "individualismo"

A aplicação prática do direito de liberdade é o direito à propriedade privada. Mas em que consiste este último direito?
"O direito de propriedade é o que pertence a todo o cidadão de desfrutar e de dispor a seu gosto dos seus bens, dos seus lucros, do fruto do seu trabalho e do seu engenho. "
O direito de propriedade privada é, portanto, o direito de gozar da sua fortuna e dela dispor "a seu gosto" sem se preocupar com os outros homens, independentemente da sociedade: é o direito do egoísmo. É esta liberdade individual, com a sua aplicação, que forma a base da sociedade burguesa. Ela faz com que cada homem veja no outro homem não a realização mas antes a limitação da sua liberdade."
Marx, Textos de 1844 e de a A Questão Judaica.

As classes sociais
  
[diz Marx]
a) «Não me é devido qualquer mérito pela descoberta da existência de classes na sociedade moderna ou da luta entre elas. Muito antes de mim tinham já os historiadores burgueses descoberto o desenvolvimento histórico desta luta de classes e os economistas burgueses a anatomia económica das classes. O que fiz de novo foi demonstrar: 1) que a existência de classes está ligada apenas a determinadas fases históricas do desenvolvimento da produção; 2) que a luta de classes leva, necessariamente, à ditadura do proletariado; 3) que esta ditadura em si mesma apenas constitui a transição para a abolição de todas as classes e para uma sociedade sem classes.»
Carta de Marx a Weydemeyer, (1852); MESC, pág. 69

Capitalismo, Socialismo e Comunismo
  
b) «Entre a sociedade capitalista e a sociedade comunista existe o período de transformação revolucionária da primeira na segunda. Um período de transição política que lhe corresponde e onde o Estado não poderia ser outra coisa senão a ditadura revolucionária do proletariado.»
Marx, Crítica do Programa de Gotha
 
Organização em Partido (Comunista)

c) «Na sua luta contra a força colectiva das classes possidentes, o proletariado só pode actuar como classe se se constituir num partido político distinto, oposto a todos os velhos partidos formados pelas classes possuidoras. Esta constituição do proletariado num partido político é indispensável para assegurar o triunfo da revolução social e do seu fim último: a abolição das classes.

A luta pelo poder político

A conjugação de forças da classe trabalhadora, alcançada já pela luta económica, deve servir, também, nas mãos desta classe, como uma alavanca na sua luta contra o poder político dos seus exploradores.
Uma vez que os senhores da terra e do capital fazem sempre uso dos seus privilégios políticos a fim de defenderem e perpetuarem os seus monopólios económicas e escravizarem o trabalho, a conquista do poder político torna-se o grande dever do proletariado.»
Resolução da Conferência de Londres (1871); MESW, I, pp. 388 e segs.

Objectivo: Desaparecimento do poder político e das classes

d) Quando, no curso do desenvolvimento, as distinções de classe tiverem desaparecido, e toda a produção se tiver concentrado nas mãos de uma vasta associação da nação inteira, o poder público perderá o seu carácter político. O poder político, propriamente dito, é apenas o poder organizado de uma classe para a opressão de outras. Se o proletariado, por força das circunstâncias, se vir obrigado a organizar-se em classe, se, por meio de uma revolução, se tornar a classe dominante, e, enquanto tal, arrasar pela força as velhas condições de produção, então terá, juntamente com essas condições, arrasado as condições para a existência de antagonismos de classe e de classes em geral, e terá, com isso, abolido a sua própria supremacia de classe. No lugar da velha sociedade burguesa, com as suas classes e antagonismos de classe, teremos uma associação, na qual o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos.
Manifesto do Partido Comunista (1848); MESW, I, pp. 53 e segs.
 
Relações entre as classes e luta de classes
  
No estádio da sociedade industrial capitalista, a luta de classes desenvolve-se entre o proletariado e a burguesia. A pertença a uma ou outra das classes é determinada pelo lugar que cada homem ocupa nas relações de produção: o burguês é o proprietário dos meios de produção; o proletário só possui a sua força de trabalho.
Marx analisa a sociedade industrial da Inglaterra do século XIX e conclui que o liberalismo económico é um tremendo fracasso. Nessa sociedade os operários (os proletários) trabalhavam quinze horas por dia recebendo um salário miserável. Crianças de oito anos (e às vezes menos) desciam ao fundo das minas. A mortalidade atingia níveis assustadores. A justificação liberal da propriedade (legitimada porque fruto do trabalho) parecia irrisória num mundo onde o trabalhador assalariado não tinha meios de se tornar proprietário, enquanto os proprietários capitalistas podiam dispensar- se de trabalhar. 

Liberalismo, liberdade abstrata e exploração

A liberdade de que fala o liberalismo é puramente abstracta (não concreta ou real): entende-se que o empregado e o patrão discutem livremente o salário; mas o empregado ameaçado pelo desemprego - e que não pode esperar porque não tem meios - é, de facto, constrangido a aceitar o salário proposto. A sua liberdade abstracta nada mais é do que uma servidão real. O direito de propriedade (a propriedade privada dos meios de produção) está na origem da exploração do homem pelo homem.
 
Apropriação do trabalho de outro

O produto do trabalho surge perante o trabalhador como algo estranho e independente porque este é imediatamente desapossado daquele. Mas não é só o facto de o homem não produzir para si mas para um outro que faz com que o produto do seu trabalho se lhe oponha como realidade estranha. A alienação consiste sobretudo na transformação do produto estranho em produto hostil e repressivo. Apropriando-se do produto do trabalho alheio e transformando-o em capital, o proprietário dos meios de produção utiliza parte desse capital (uma pequena parte) para comprar e explorar a força de trabalho do operário. Afastado dos meios de produção e do capital que o seu trabalho gera, o trabalhador tem de aceitar, para sobreviver, as condições de exploração que lhe são impostas.
 
 
Exploração e Mais Valia
  
O que caracteriza a exploração capitalista do operário? O capitalista compra a força de trabalho, determinando, por exemplo, que, para sustentar e manter activa essa força (para a reproduzir) bastam seis horas de trabalho. Ora, o operário trabalha mais do que seis horas diárias (8, 10 ou mais). O valor gerado pela força de trabalho assalariado durante essas horas, e que não é pago, é por Marx denominado «mais-valia» e é a base do lucro do capitalista.
 
Organização e Revolução
  
A revolução proletária não pode, para Marx e Engels, ser uma questão de boa vontade. Há que ter em conta as circunstâncias objectivas, o movimento da realidade. Assim, a revolução proletária só pode ter lugar num período de crise económica da sociedade capitalista, isto é, aquando de uma contradição aguda entre as forças produtivas e as relações de produção. Só nessas circunstâncias de crise da sociedade burguesa é que o proletariado se pode afirmar como classe revolucionária. Mas as circunstâncias não bastam. O proletariado deve lutar organizadamente.
 
Consciência de Classe, Organização e Partido político

Só um partido político pode organizar o proletariado, ser o intérprete esclarecido das suas aspirações e interesses. Pode-se mesmo dizer que o partido formado pelos  comunistas, não só organiza a luta da classe operária (o proletariado) como também dá a esta consciência de classe, i. e., «consciência de si contra a alienação». Como diz Marx no segundo capítulo do Manifesto do Partido Comunista, os comunistas «têm sobre o resto do proletariado a vantagem de uma inteligência clara das condições da marcha e dos fins gerais do movimento proletário».
 
Revolução e substituição do poder capitalista pelo poder dos trabalhadores

A revolução, uma vez criadas as suas condições objectivas, instaurará, durante um  período transitório, a ditadura da classe operária, i.e., um Estado proletário cuja finalidade é pôr fim definitivo ao domínio da burguesia. A classe operária exerce a sua ditadura sobre as antigas classes exploradoras (os capitalistas, os grandes latifundiários) mediante o domínio do poder político, do aparelho de Estado, em aliança com os camponeses e outras classes assalariadas. Esta ditadura revolucionária será necessária enquanto a burguesia constituir uma ameaça, uma resistência aos objectivos da revolução: a instauração de uma sociedade comunista, sem classes. 
 
Socialismo, periodo transitório do poder dos trabalhadores
  
A este período transitório e ditatorial dá-se, em sentido estrito, o nome de socialismo. Nesta fase a distribuição dos bens materiais e culturais dá-se de acordo com a quantidade e qualidade do trabalho de cada um. «A cada um segundo as suas capacidades.» Enquanto fase prévia à instauração do comunismo, o socialismo pretende combater a divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual, eliminar a discriminação da mulher, educar o povo na base de princípios de cooperação e de solidariedade que vençam as motivações egoístas e as tendências à acumulação privada.

Uma sociedade nova, fim do egoismo, uma nova mentalidade, a extinção das classes e a sociedade comunista
  
O socialismo é assim a fase preparatória de uma fase de organização social mais desenvolvida e que constitui o objectivo final da revolução proletária: a sociedade comunista. Caracteriza-a a inexistência de classes. Acabado o antagonismo de classes, o Estado, que é, por definição, um poder organizado para a opressão de uma classe por outra, definha e perece. O poder público perde o seu carácter político, i. e., deixa de ser um instrumento de opressão e de repressão para se transformar em «associação livre»: o Estado enquanto tal desaparece. A educação na fase socialista da revolução tinha como objectivo eliminar o egoísmo e a rivalidade como forças motrizes da acção económica, do trabalho. Conseguido isso, a distribuição da riqueza poderá efectuar-se segundo o princípio: «De cada um segundo as suas capacidades; a cada um segundo as suas necessidades.»


LUIS RODRIGUES,
Autor de livros didácticos de Filosofia e de Psicologia; Colaborador de Crítica, Revista de Filosofia e Ensino; Membro do Centro para o Ensino da Filosofia (Sociedade Portuguesa de Filosofia) e da Sociedade Portuguesa de Filosofia.




12 de Novembro de 2011

O idealismo 




6 de Novembro de 2011


A luta ideológica e os falsos argumentos


Servindo-me de uma importante análise do economista Carlos Carvalhas, publicada na revista Militante nº 315, vou destacar algumas reflexões que desmascaram os argumentos que servem a ideologia dominante, que sustenta esta política de direita, para servir os interesses da classe exploradora, dos grupos financeiros que dominam a economia.
A origem da crise

Diz Carlos Carvalhas que "A tese de que a crise teve origem na cupidez, na ganância, na ambição desmedida de alguns, e que hoje, sobretudo na Europa, ela é a consequência da dívida pública" é um engano para desviar as atenções da razão fundamental.


Carlos Carvalhas e outros economistas citados, mostram que "não estamos perante «uma crise excepcional» (1)(2), mas sim perante uma crise cíclica do capitalismo com características novas e específicas, agravada por novas situações – liberdade de circulação de capitais, deslocalizações, crescente peso das actividades financeiras e do «capital fictício», parasitário, especulativo, num quadro de domínio da ideologia neoliberal".


Trata-se portanto de uma crise inerente ao sistema capitalista já há muito estudada e conhecida. O excesso de capital e a sua necessidade constante de consumo de produtos, materiais e fictícios, entra em contradição com a incapacidade das massas de explorados empobrecidas, poderem absorver o que se produz. Inicia-se assim a crise de "sobreprodução, crise de excesso de capital, cuja síntese passa pela destruição desse excesso em relação à taxa de lucro esperada". 
Como não se consome, não se produz, aumenta o desemprego, reduzem-se os ordenados, os apoios sociais, e o consumo baixa ainda mais.


Neo liberalismo - Os mais fortes contra os mais fracos

"Perante a concentração da riqueza e a perda do poder de compra dos trabalhadores, a tentativa de saída para a produção..." é "o recurso ao crédito fácil e às exportações. Isto é, procurar saídas nos mercados dos outros e numa procura a crédito" diz Carlos Carvalhas.


Portanto, os mais fortes, arranjam formas de roubar mercados aos mais fracos, agravando o ciclo vicioso. Portugal, na União Europeia, é uma das vítimas da crise dos mais fortes que invadem o nosso mercado destruindo as nossas empresas, com a conivência dos governos de direita.


Retomando Carlos Carvalhas, "Para salvar os banqueiros e os accionistas, os Estados foram em socorro da banca com dinheiros públicos, nacionalizaram os prejuízos, criaram os «bad banks», para depois privatizar os lucros e endossar a factura aos contribuintes através dos impostos e do corte de despesa nas funções sociais do Estado. (3)"


A mentira da dívida pública

Paralelamente, a ideologia dominante "esquece" que a dívida pública foi originada pela dívida privada e que esta é superior à dívida pública. Este "esquecimento" serve para justificar os aumentos de impostos e o corte nas despesas sociais. 


Como diz Carlos Carvalhas "temos estado a resolver os problemas da dívida privada à custa da dívida pública" e "inventaram com criatividade a expressão corte «nas gorduras do Estado». Não há «papagaio» que não fale nas gorduras do Estado..." que aproveita a moda "das campanhas contra a obesidade".


Do ponto de vista da política de direita (PS, PSD e CDS) com o pretexto de reduzir as "gorduras do estado" e para não terem que reduzir as gorduras do grande capital, privatizam os serviços públicos, oferecem esse negócio aos grandes grupos privados e acabam com o «Estado social». 


O dinheiro que é retirado ao Estado é transferido para "subsídios à banca na ordem de milhões e esta despesa, verdadeira gordura do Estado, para utilizar a expressão destes, vai engordar os já anafados e obesos banqueiros e accionistas" diz Carlos Carvalhas.


O ensino nas universidades

Esta ideologia de direita, na defesa dos poderosos do grande capital, é injectada nos estudantes, "como testemunhava entre nós ainda recentemente um docente universitário João Pinto e Castro (4), (…) «Os alunos aprendem logo no primeiro ano que a instituição de um salário mínimo cria desemprego" e as várias teses do capitalismo neo-liberal. 


As teorias e argumentos martelados na cabeça dos estudantes, e à opinião pública "ignora[m] sistematicamente as limitações da racionalidade humana e as falhas dos sistemas económicos que delas decorrem, em favor de uma visão cor-de-rosa do funcionamento dos mercados desregulados. Assim, embora o estudo do comportamento dos agentes económicos demonstre que os pressupostos da microeconomia estão errados, ela continua a ser ensinada como se nada fosse.» (...) (continuando a citação de João Pinto e Castro).


O argumento final: Não há alternativa!

Continua Carlos Carvalhas "E todos estes sábios repetem mil vezes que «não há alternativa!» O conhecido acrónimo thatcheriano «Tina», «there is no alternative», é a resposta do pensamento único e dos que são responsáveis pela situação em que nos encontramos. Não há alternativa ao capitalismo, não há alternativa ao neoliberalismo, não há alternativa ao cumprimento do acordo com a troika...


As mentiras e as frases enganadoras

"Como já alguém disse, estes propagandistas da submissão e do conformismo também não descuram o marketing e a propaganda.


O salário é sempre na boca destes um «custo do trabalho», a diminuição dos salários é embrulhada na expressão «aumento de flexibilidade sobre o mercado do trabalho» ou «moderação salarial» e o desmantelamento do Estado Social naquilo que designam por «reformas estruturais». As quotizações sociais são sempre «encargos sociais», os patrões são «empregadores», a exploração desapareceu do léxico e os trabalhadores passaram definitivamente a «colaboradores», etc., etc.".


E assim, aos poucos e durante anos, a ideologia dominante vai enganando muitos trabalhadores que, de tanto ouvirem na televisão, nos jornais na rádio, muitos comentadores e jornalistas, ficam convencidos que "isto sempre foi assim e sempre há-de ser", que "não há alternativa", que "os políticos são todos iguais", que "a culpa é da política", esquecendo quem ganha com tudo isto são os muito ricos, que são cada vez mais ricos à custa do trabalho dos que são cada vez mais pobres. 


Esquecendo que são os muito ricos que precisam dos trabalhadores para serem mais ricos e os trabalhadores não precisam dos muito ricos para viver do que produzem.


Eu, pessoalmente, sempre que oiço uma notícia de uma medida do Governo, pergunto para mim próprio: Quem é que ganha com isto?


O texto completo de Carlos Carvalhas pode ser visto (aqui).

Notas:

(1) Fernando Alexandre, Crise Financeira Internacional. Estado de Arte. Ver Gandra Martins e outros. Universidade de Coimbra, 2009.
(2) Ibiden.
(3) O BPN e o BPP irão custar ao erário público muito perto de 4,5 mil milhões de euros.
(4) João Pinto e Castro, Jornal de Negócios, 15.06.2011.




30 de Outubro de 2011

A burla da Produtividade e a meia hora não paga (2)

O desemprego

Como referi no texto anterior, um trabalhador produz, em média, 80 tapetes por dia. Como o mercado precisa de 1600 tapetes por dia, a empresa tem 20 trabalhadores.
Com a imposição do Governo de cada trabalhador trabalhar mais meia hora, os 20 trabalhadores produzirão 1700 tapetes (ou 1684, porque a produtividade é menor como vimos anteriormente). Como a empresa não consegue vender os 84 tapetes a mais, despede um trabalhador.

Assim com 19 trabalhadores a fazerem meia hora a mais a fábrica produz práticamente o mesmo que produzia no início.
A meia hora a mais numa empresa de 20 trabalhadores permite desempregar um.

Em media por cada 20 trabalhadores, um é despedido. 
Quem paga os custos de um trabalhador sem trabalho? 
Paga o país, que se continua a afundar.

Outra consequência: Produzir e destruir, um ciclo para que os preços não baixem.

Neste sistema capitalista produz-se muito mais do que a sociedade precisa. As campanhas de Marketing, as publicidades, tentam criar necessidades artificiais, para se gastar dinheiro. Mesmo assim as empresas periodicamente, destroem e deitam para o lixo toneladas de produção feita a mais, para não baixar os preços, criando graves problemas ao ambiente. 
É conhecida a política de "descontinuar" os produtos e destruí-los para obrigar os mercados a comprarem tudo de novo, sem peças de substituição. Este problema é mais desumano na alimentação. Os países ricos destroem milhares de toneladas de alimentos para não baixar os preços. Entretanto deixam morrer à fome milhões de pessoas em todo o mundo. É assim o capitalismo. 




A burla da Produtividade e a meia hora não paga


Conceito de Produtividade


A produtividade é a relação entre o que é produzido e os meios utilizados para essa produção.
A produtividade de um trabalhador é a quantidade produzida a dividir pelo tempo utilizado para essa produção.


O Governo e alguns administradores (que se fazem ignorantes) escamoteiam este conceito, concensual, dizendo que a meia hora diária de trabalho a mais aumenta a produtividade. Isso é falso. Normalmente quanto mais aumenta o tempo de trabalho mais diminui a produtividade pois, com o cansaço, os trabalhadores dão menos rendimento.

O que aumenta é a produção sem aumentar o pagamento ao trabalhador. Aumenta portanto o lucro e não a produtividade que é menor.

Um trabalhador faz em média por hora dez tapetes. Ao fim do dia de 8 horas fez 80 tapetes. A produtividade é 80/8=10 tapetes por hora.
Em 8 horas e 30 minutos, teoricamente, faria 85 tapetes. A produtividade será de 85/8.5=10 tapetes por hora (a mesma).
  
Contudo, ao longo do dia a produtividade varia.
Em geral a primeira hora (preparação) é de menor produtividade (8 tapetes) e a segunda e terceira de maior produtividade (11 tapetes por hora = 22 tapetes).
A quarta hora é de produtividade média (10 tapetes).
Na parte da tarde o ritmo é identico:
Na primeira hora (9 tapetes).
Na segunda e terceira (22 tapetes).
Na quarta hora, ao fim do dia de trabalho (9 tapetes).
Até aqui o trabalhador cumpriu a média da produtividade de 10 tapetes por hora (total=80).
Na meia hora extra (4 tapetes) e a produtividade reduziu (84/8.5=9.8 tapetes por hora).

Contudo o lucro do patrão aumentou pois com o mesmo salário obteve mais 4 tapetes, à borla.



terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Conceitos



9 de Setembro

As religiões surgiram pouco elaboradas, tendo evoluído no caminho da racionalidade
António Bica

1.  A capacidade humana de raciocínio abstracto

A capacidade do homem de inter-relacionar factos presentes e factos passados com factos hipotisados e estes entre si, que é capacidade de raciocínio abstracto, permite-lhe debruçar-se sobre ele mesmo e o Universo. Essa capacidade leva o homem à necessidade de explicar o meio em que se integra e onde se desenvolvem as suas actividades: procura e produção de alimentos, de abrigo, de meios de defesa, de prazer. Interpreta assim o meio em que se insere e os fenómenos que nele ocorrem em função da necessidade de evitar o perigo que esses fenómenos possam ter para ele, como uma trovoada, uma cheia, uma seca, um tremor de terra, um vulcão, um vendaval, e de utilizar o que puderem ter de favorável.
Para a compreensão destes fenómenos o homem recorre à sua memória e à capacidade de hipotisar (supor) factos na base da sua experiência.
A complexa actividade que o homem sempre foi obrigado a desenvolver, procurando incessantemente alimentos, trabalhando para os obter, defendendo-se dos outros homens, dos animais e dos fenómenos naturais para ele perigosos, constitui o fundo da sua experiência, a sua memória individual e colectiva. O homem é sobretudo um laborador, actuador com o seu corpo, em especial as mãos, sobre o meio em que vive para o utilizar em seu proveito, ao serviço da sua vida, humanizando-o.
Porque os fenómenos que ocorrem no meio de que faz parte interferem necessariamente na sua vida, o homem procurou sempre agir em relação a eles para evitar que aconteçam, se desfavoráveis, ou para suscitar o seu acontecimento, se benéficos, afastar as suas consequências desfavoráveis e fazer surgir as favoráveis.

2.  O homem procura agir sobre a natureza por meios que ultrapassam as suas forças


Quando a acção sobre a natureza ultrapassa a capacidade do homem, procura consegui-lo por práticas rituais, o que corresponde a atitude mágica, que predominou nos colectivos humanos por muitos milénios e ainda frequentemente aflora. Tal como a percussão de duas pedras ou a fricção de dois paus faz surgir o fogo, admitia que outras acções pudessem fazer acontecer factos favoráveis ou desfavoráveis como provocar chuva ou afastar doença. Desse modo o homem visava tornar-se dominador do meio, procurando provocar ou evitar fenómenos naturais cuja ocorrência considerava para si benéficos ou nocivos. A convicção de que certos actos rituais seus levavam a que acontecessem determinados factos pretendidos reforçava-se com os ciclos dos fenómenos naturais: Se chamasse a chuva, ela surgiria decorrido tempo mais ou menos largo. Se procurasse afastar uma doença, ela acabaria por deixar o indivíduo ou o colectivo. Mesmo que o fenómeno desejado não ocorresse, ou não evitasse o acontecimento de fenómeno indesejado, era sempre possível atribuir isso à incorrecta prática do acto destinado a provocar ou a afastar o fenómeno, isto é a deficiente execução da prática mágica.
Nos povos agricultores continuou a prática da magia, porque se manteve a necessidade de chamar a chuva, expulsar a doença, quebrar o ânimo dos inimigos, dissipar as tempestades.
O conhecimento empírico dos fenómenos biológicos, astronómicos, climáticos e outros que condicionam a actividade dos colectivos humanos e a vida dos indivíduos levou progressivamente à personalização desses fenómenos. O sol, a chuva, a tempestade, a lua, os planetas, as constelações, os montes, os rios, as nascentes, as florestas, a noite, o céu, a terra, o fogo, os vulcões, o mar, os lagos, foram personalizados em espíritos ou em deuses. Cada uma dessas personalizações passou a ser destinatária de preces, sacrifícios, ofertas e outras práticas destinadas a torná-la benfazeja ou a aplacar a sua ira.
Foram criadas relações complexas entre estas personalizações e delas com os homens, que representavam, em regra, sob a forma de explicação do universo, os valores históricos do colectivo. É o que se designa por mitos, explicação de carácter emocional, isto é não racional.

3. A pulsão humana de fuga à morte


A morte repugna naturalmente a cada indivíduo. A vida é organização com manutenção dessa organização, a morte a desagregação. A organização só pode manter-se opondo-se à desagregação. Por isso a morte (desagregação do indivíduo) repugna à vida. A oposição à morte por cada indivíduo levou ao aparecimento de explicação mítica da vida concebendo a morte como acidente, que, sendo embora de decisiva importância na vida do indivíduo, não o extingue.
Cada indivíduo é, por essa explicação, ou mito, desdobrado em duas realidades: uma visível e perecível e outra invisível e imperecível.
Na sequência dessa explicação surgiu a assimilação da vida do indivíduo aos ciclos resultantes dos movimentos de translação real ou aparente da lua, do sol, das estrelas e dos outros planetas. A verificação desses ciclos e da sucessão das estações do ano, da queda das folhas no outono, da floração na primavera, levou à formulação do mito do eterno retorno: a realidade imperecível de cada ser humano, ou mesmo, na concepção indú, de cada animal,  renascer, depois da morte da realidade visível e perecível, num novo corpo, à semelhança da permanente renovação da natureza.
Outra explicação concebia e concebe a morte do homem como definitiva para a realidade visível, sem renascimento ou reencarnação, mas com sobrevivência da realidade invisível.

4.  A estruturação das religiões


Assim se foram construindo explicações para o universo em que o homem (indivíduo e colectivo) vive e de que ele mesmo é componente fundamental. Essas explicações evoluíram com o crescimento dos colectivos humanos, o desenvolvimento das forças produtivas e a sequente reestruturação social, procurando dar coesão a cada colectivo e justificar, dentro dele, as relações económicas e os elos sociais entre os indivíduos e os grupos sociais.
A construção, ou mito, da dupla realidade humana como forma de responder à recusa individual da morte contribuiu para reforçar as sanções sociais contra os desrespeitadores das regras e fórmulas tendentes a garantir a conformação do indivíduo com as normas do colectivo. Aos respeitadores das leis, fórmulas e ritos foi e é prometida, ou a felicidade eterna, nos casos de não reincarnação, ou o progresso no caminho para a felicidade eterna ou ainda a libertação definitiva do sofrimento nos casos de renascimento.
Essas construções, com os seus espíritos, deuses, mitos, cosmogonias, aparelhos sacerdotais, templos e ritos, são as religiões.

5.  A organização tribal dos colectivos humanos


Os povos, ao fixarem-se na terra, tornando-se agricultores, mantiveram a estrutura tribal, cada tribo considerando os seus membros iguais entre si e os únicos com a dignidade de homens livres. Todos os outros indivíduos, não pertencentes à tribo, eram considerados gente exterior, sem integral dignidade humana (bárbaros para os gregos, filisteus e posteriormente gentios para os judeus), destinada a ser conquistada e escravizada. Os seus deuses eram, ou falsos deuses, ou deuses inimigos.
Assim cada tribo ou família de tribos (como as egípcias, as sumérias, as hebraicas, as gregas, as persas, as latinas) tinha a sua religião organizada na base dos valores tribais e consequentemente não apta a poder ser seguida ou adoptada por outras tribos.

6.  O comércio a distância levou à criação de estados


O desenvolvimento da produção criou condições para o alargamento do poder político da tribo ou do grupo de tribos para além do seu inicial espaço geográfico. Organizaram-se correntes comerciais regulares na base de transporte a dorso de animais, por rios e marítimo. Esse comércio possibilitou significativa acumulação de riqueza, porque, ligando grupos humanos com grande desigualdade de desenvolvimento quanto às técnicas de produção, tornava possível trocar produtos manufacturados, cuja produção no lugar de origem exigia certo tempo de trabalho, por outros cuja produção exigia muito mais tempo. Uma peça de tecido colorido, ou um recipiente de vidro ou barro, ou uma estatueta poderiam ser trocados por bom peso de ouro, de prata, ou de cobre, de trigo ou cevada, por bom número bois ou cavalos, ou por escravos. Pelo Mediterrâneo o comércio marítimo foi desenvolvido sobretudo pelos Fenícios e depois pelos Gregos. Portugal, no século 15,  ainda o praticou pelo oceano com povos de economia menos desenvolvida na África ao sul do Sahara.
A acumulação de riqueza que, sobretudo na antiguidade, o comércio internacional possibilitou interessou as unidades políticas mais ricas na defesa das rotas de comércio ou estimulou-as à guerra de rapina para se apropriarem da riqueza dos outros povos. Essa tendência para o alargamento da área de influência económica fez criar conflitos entre as múltiplas unidades políticas existentes e levou a que umas impusessem pela força o seu domínio a outras. Deste  modo se criaram unidades políticas alargadas, os estados, compostas por vários povos.

7.  A desadequação das religiões tribais aos estados


O progressivo alargamento destas unidades políticas cada vez mais vastas, que no Médio Oriente tiveram centro no Egipto, na Assíria, na Babilónia, na Pérsia, na Macedónia e noutros pontos, foi sendo feito sem que tivesse surgido sistema religioso suficientemente englobante para se tornar religião de unidade política composta de diversos povos. As religiões de raiz tribal resistiam e, porque cada uma delas era exclusivista tendendo a negar o mundo exterior à sua tribo de origem, nenhuma teve capacidade para se impor como religião dos povos englobados na mesma unidade política.

8.  Também ao império romano faltava unidade religiosa


À unificação política, económica, linguística e jurídica feita posteriormente pelo império romano também não correspondeu unificação religiosa. As religiões dos diversos povos que o constituíram eram de origem tribal e consequentemente qualquer delas incapaz de ser elevada a religião do império, porque cada uma tendia a negar aos povos diversos daquele que a criou o reconhecimento da igualdade. Há que creditar ao império romano  ter generalizado o uso do latim e do grego sem impor a eliminação das línguas dos diversos povos (que desapareceram muito tempo depois), mas tendo imposto, através do direito, comportamentos básicos de respeito pela vida humana e de cumprimento dos contratos, sem forçar o desaparecimento dos valores próprios de cada povo.
Embora o império romano não tenha conseguido criar sistema religioso capaz de unificar os povos que o integravam, fez débil tentativa com a deificação dos imperadores reinantes, que não teve força para se impor à convicção das populações, quer por a classe dominante ser suficientemente culta e racionalista para aceitar convictamente o culto do imperador, quer porque a divinização de homens vivos não era admitida pela generalidade das religiões seguidas pelos povos do império.
Na impossibilidade de o culto do imperador reinante unificar religiosamente o império, foi fomentada a interpenetração religiosa, favorecida pela deslocação dentro do império dos seguidores das diversas religiões: soldados, comerciantes e administradores. Em Roma foram admitidos os cultos dos diversos povos, o que foi institucionalizado e simbolizado no tempo do imperador Augusto com a construção em Roma do Panteon (templo de todos os deuses) reconstruído depois, sob a forma que hoje tem, pelo imperador Adriano. E por outro lado expandiram-se, ao lado dos cultos locais, o culto das divindades egípcias e outras do Médio Oriente.
As religiões mais evoluídas do Médio Oriente foram as que mostraram maior vigor e capacidade expansiva no império romano por serem mais universalizantes. O culto de Ísis era conhecido por toda a parte. O culto de Mitra parece ter tido expansão ainda maior.
Não era todavia possível a unificação religiosa sem religião suficientemente elaborada para poder ser aceite pelas classes dominantes  romanas de cuja preparação escolar fazia parte o estudo dos filósofos gregos e romanos. Essa religião teria que ter características que a compatibilizassem com o racionalismo da filosofia greco-romana.

9.  A adopção pelas tribos hebraicas de religião monoteísta


O povo hebraico de origem semita, mais tarde integrado no império romano, teve profundo contacto com o povo egípcio. Por razões complexas, em cuja base parece ter estado forte influência das religiões egípcias, nomeadamente o monoteísmo imposto pela reforma religiosa do faraó Aquenaton cerca do ano 1300 antes de Cristo na sequência do antigo culto do sol considerado pelos egípcios o grande deus, os hebreus criaram sistema religioso baseado no monoteísmo de Aquenaton a que adicionaram importantes elementos da cosmogonia semita mesopotâmica (por exemplo o dilúvio).
O povo hebraico, após a saída do Egipto pelo fim da centúria de 1300 antes de Cristo e a posterior fixação na Palestina, sofreu acidentes políticos diversos e as diferentes tribos foram perdendo consciência da sua individualidade. Só a tribo judaica sobreviveu aos impérios assírio e babilónio. Mais tarde, cerca do século 6 antes de Cristo, com o regresso das classes dominantes judaicas do exílio na Babilónia, se reorganizou politicamente em torno de Jerusalém, durante o império persa, e se manteve sob os impérios grego e romano até Tito e Adriano.
A religião hebraica, mantida desde então pela tribo de Judá, caracteriza-se, como todas as religiões de origem tribal, por ser válida só no interior da tribo, ou grupo de tribos com a mesma origem. O seu deus único é concebido como o dos judeus. Só pelos judeus é adorado e só a eles reconhece. É o seu protector e implacável vingador contra os outros povos. E promete, como deus tribal, conduzi-los à vitória sobre os outros e ao domínio sobre eles.
As religiões tribais eram em regra politeístas, isto é admitiam a existência de vários deuses. Embora os deuses da tribo só existissem dentro dela, não excluíam os das outras. Mas o sistema religioso hebraico assenta na concepção de um único deus, criador do mundo e dos homens. Todos os outros seus primitivos deuses foram degradados à categoria de anjos  (antigos deuses bons) e de diabos (antigos deuses maus). Não existe pois nenhum outro deus no Universo. Ele é o deus único, sendo-o apenas dos hebreus. Todos os outros povos estão, na concepção hebraica, privados de deus verdadeiro. E o deus único promete ao seu povo, os judeus, vir a dominar todos os outros. Esta é a contradição estrutural da religião judaica, que impede e sempre impediu o seu alargamento aos não judeus.

10.  A reforma cristã da religião judaica


A religião judaica estava então, durante o domínio político helenista e depois o romano, sujeita à inevitável fermentação por cruzamento de influências que deu origem ao aparecimento de correntes religiosas, de seitas, de comunidades, de profetas e reformadores. A integração de Judá no império grego e depois no romano impossibilitou à classe dominante judaica reprimir no seu território, a Palestina, as novas correntes religiosas por lhe faltar autonomia política.    
Assim em Judá, poucas centenas de anos antes de Cristo, nasceram diversas correntes religiosas à volta do velho núcleo monoteísta hebraico. Entre as múltiplas correntes (fariseus, saduceus, essénios, etc.) surgiram os cristãos organizados com base na reforma elaborada pelo profeta Jesus, que os seus seguidores identificaram com o Cristo, isto é com o grande rei que havia de conduzir os hebreus à vitória sobre os povos da terra, cumprindo assim as promessas do deus único hebraico.
A doutrina de Jesus assentava na existência de um deus único criador de todo o Universo tal como entendia a ortodoxia judaica. Mas introduziu-lhe valores novos que lhe fizeram perder o carácter tribal da religião judaica e deram potencialidade para se alargar a todos os povos. Esses valores novos foram: o reconhecimento de que todos os homens são iguais por todos serem filhos de deus único; o deus único ser deus de amor, compassivo e perdoador, isto é não vingativo e não ciumento como o Antigo Testamento figura deus.
Estes novos valores, introduzidos na velha religião hebraica tribal monoteísta, deram potencialidade ao cristianismo para se tornar religião universal e portanto religião do império romano, trazendo-lhe o cimento religioso que nenhum dos impérios anteriores conseguira.
Esta religião, que assentava na existência de um único deus de quem todos os homens são filhos e consequentemente iguais entre si, era suficientemente evoluída, racional e depurada para poder ser adoptada pelas classes dominantes do império romano. Para isso os dirigentes religiosos cristãos de cultura greco-romana tiveram o cuidado de vestir a nova religião judaica reformada com a roupagem da filosofia das correntes idealistas de raiz socrática, tarefa em que sobressaiu Paulo de Tarso da etnia judaica e cidadania romana.

11.  A adopção pelo império romano da religião cristã


A nova religião teve capacidade para se impor às classes trabalhadoras urbanas pelos valores de tolerância que adoptou das correntes filosóficas greco-romanas e do direito romano e por estas classes terem quebrado a sua ligação às estruturas económicas tribais. Os rurais do império romano, designados por pagãos por viverem nos “pagos” (aldeias), mantiveram por longo tempo, que as populações rurais são sempre as mais conservadoras, as velhas religiões só eliminadas por repressão, que se prolongou na Europa pela Idade Média e mesmo a Idade Moderna, contra a sobrevivência dos velhos cultos (práticas mágicas, fogueiras solsticiais, festas de Maio, refeições de culto aos mortos, orvalhadas do solstício de verão) por vezes disfarçados sob formas cristãs. Em Braga, no século 6, S. Martinho de Dume escreveu o livro “Sobre a correcção dos Rústicos” com o intuito de combater a sobrevivência das práticas pagãs.
O cristianismo submergiu a partir do século 4, com o reconhecimento pelo imperador Constantino, as restantes religiões do império romano e expandiu-se para além das fronteiras dele. Só foi arredado seiscentos anos mais tarde na parte sul e sudeste do império romano pelo Islão, que é religião monoteísta judaico-cristã depurada das complexidades teológicas do cristianismo.

12.  O monoteísmo  sob forma cristã e islâmica  expandiu-se no mundo


Com a expansão política e económica da Europa cristã, a partir do século 15, e do Norte de África e Médio Oriente islâmicos, desde o século 7, as religiões monoteístas, o cristianismo e o islamismo, alargaram-se à África, à Indonésia, ao centro  e ao norte da Ásia, às Américas e à Austrália.
Hoje o monoteísmo, sob forma cristã ou islâmica, tornou-se a concepção religiosa demograficamente dominante. Têm-lhe todavia oferecido forte resistência o induísmo (politeísta) dominante na Índia e o budismo partilhado pelo Sudoeste da Ásia, o Oriente Asiático e o norte da Índia, onde convive pacificamente com o remanescente de antigas religiões. O budismo, sendo mais filosofia do que religião, convive bem com outras filosofias (o confucionismo) e com antigas concepções religiosas nomeadamente na China e no Japão.

13.  O ressurgir na Europa do racionalismo da filosofia greco-romana


A racionalidade da filosofia greco-romana, que a teologia cristã adoptou para o cristianismo se ter podido expandir no império romano, reemergiu na Europa, por via do Renascimento, com o racionalismo nos séculos 17 e 18. Desse ressurgimento nasceram: a ciência, que é a observação cuidadosa dos fenómenos naturais, a sua repetição se possível (experimentação), e a procura de explicação racional deles; o sequente desenvolvimento tecnológico que deu origem à produção industrial de bens; e o progressivo alargamento a toda a população do conhecimento dos fenómenos naturais e das correspondentes tecnologias, por iniciativa do poder público, para a habilitar à produção industrial de bens.
O desenvolvimento da ciência e o sequente alargamento a toda a população do ensino levaram ao questionamento das religiões, desde o século 16, embora a interrogação sempre tenha estado presente na reflexão de alguns pensadores desde tempos anteriores.
O avanço no conhecimento da natureza levou a pôr em causa as religiões herdadas do passado. Uns, questionando-as, passaram a negar a concepção de deus único (sem aceitar a de múltiplos deuses). Outros a pô-la em causa, considerando não demonstrável a sua existência nem a inexistência.
Os que põem em causa a existência de deus, consideram que, observando o universo, se vêem corpos celestes girando entre si segundo leis constantes; que os compostos químicos cristalizam sempre sob certas formas; os elementos simples (hidrogénio, oxigénio, carbono e outros) se associam de modos sempre iguais se as condições forem as mesmas; os protões, os neutrões e os electrões sempre se organizam entre si segundo formas certas; os elementos mais simples, embora constituam realidades ainda mal compreendidas, parece obedecerem ao mesmo tipo de constâncias; e cada ser vivo sempre age para manter a sua existência e reproduzir a espécie. Assim é, consideram, porque de outro modo deixam de ser o que são.
O que os faz assim agir, procurando a melhor organização para eles, parece ser princípio inteligente universal comum a tudo o que existe.
Se assim for, a inteligência humana corresponderá ao constante avanço organizativo de tudo o que existe, complexificando o princípio inteligente universal. Tudo o que existe, ao tornar-se progressivamente cada vez mais complexo, potenciará esse princípio inteligente universal até capacitar, pela inteligência abstracta, os humanos a debruçar-se sobre si mesmos e sobre o universo de que fazem parte.

14.  A incapacidade humana para compreender completamente o universo


Outra questão é se os humanos alguma vez alcançarão o pleno conhecimento do universo, isto é de tudo o que existe. Não parece possível, que, sendo parte dele, isso estará fora do seu alcance. Compreender implica abarcar, o que os humanos parece nunca poderão conseguir com o infinito universo de que são ínfima parte. À parte parece estar vedado compreender, abarcar o todo.
Poder-se-á considerar, com Espinosa e outros pensadores, que este entendimento da inteligência corresponde à aceitação de deus imanente, isto é de deus inteligência do universo, pois, sendo o universo a suprema complexidade, englobando a complexidade de todos os seres, incluindo os humanos, corresponder-lhe-á necessariamente a suprema inteligência, que tudo compreende, geradora da máxima auto-consciência, concepção monista que se contrapõe à de deus transcendente, independentemente do universo, dele criador e nele presente, que é a das religiões monoteístas.
Mas a ideia de deus imanente não parece aceitável, que isso implicaria o universo ser dotado de inteligência distinta da de cada ser e haver nele, como nos seres vivos, mormente nos humanos, órgão específico produtor de inteligência consciente e também mecanismos capazes de fazer chegar os seus comandos a cada parte da sua infinitude, que, pelo que se pode inferir do que se observa, não existem.
A ideia de deus transcendente, isto é pré-existente ao universo, dele criador e distinto, responde à necessidade humana, que resulta da capacidade de raciocínio abstracto, de explicar o mundo exterior e consequentemente o universo. Porque os humanos, sendo ínfima parte dele, são incapazes de o compreender, embora o vão entendendo cada vez mais, em vez de modestamente aceitar essa realidade, têm tentado explicá-lo figurando a existência de deus como dele criador apesar de aceitarem a sua incapacidade de explicar deus.
Os defensores da ideia de deus (transcendente ou imanente) usam o argumento utilitarista, como se o universo existisse por causa dos humanos, da necessidade de haver regras de conduta a eles ditadas por deus, embora através de certos privilegiados, os profetas, para assegurar a harmonia entre os homens. Além de não ser racional a ideia de deus privilegiar alguns homens, com a sua comunicação, mesmo que indirecta (deus não comunica directamente com os homens), entendendo-se o universo criado por deus, é ele necessariamente regido pelas melhores leis, bastando por isso aos humanos, para assegurar a harmonia entre eles e com toda a natureza, procurar progredir no conhecimento das leis naturais. Por outro lado, tendo deus necessariamente criado o universo com as melhores leis, isso exclui a possibilidade de milagres, entendidos como excepção às leis naturais, por intervenção pontual de deus, pois, sendo elas de criação divina, não podem deixar de ser as melhores, portanto insusceptíveis de correcção.
A capacidade humana de raciocínio abstracto, procurando para tudo explicação, é que será geradora da ideia de deus imanente ou transcendente como explicação para o universo. Mas o avanço dos humanos no conhecimento do universo, embora modestíssimo como é e seguramente sempre será, está a levá-los a progressivamente aceitar a sua natural incapacidade para completamente o compreender sem deixar de sempre querer progredir no caminho do seu conhecimento.

15.  Não é lícito impor a alguém a adesão ou a não adesão a religião 


A acção para converter outros à religião ou não religião (a que cada um de nós adere) para os convencer de que existe ou não existe deus ou de que a sua existência não é demonstrável  é legítima, porque cada um deve ser livre de procurar convencer outro do que tem para si como verdade. O que não é legítimo e o poder público nas sociedades organizados deve combater é o exercício fazê-lo pela força, isto é por coacção física, moral ou social.
A verdade é conclusão pessoal a que cada um chega raciocinando e sentindo-a como verdadeira, que não há padrão para a verdade, sendo antes meta para que, sem nunca definitivamente a alcançar, se avança individual e colectivamente pelo caminho de processo mental pessoal necessariamente livre.
Impor a alguém por coacção física, moral ou social que aparente considerar «verdade» aquilo de que pessoalmente não está convencido é tão ilícito, em rigor criminoso, como sujeitar outro a violência contínua.



18 de Maio de 2011

Com base num trabalho do Professor de Economia Ricardo Bergamini, compilei este texto simplificado:

O Modo de Produção

O modo de produção e de troca é base de toda a estrutura social. E a economia é o factor fundamental no desenvolvimento da História. Todos os acontecimentos políticos, sociais e intelectuais – são, pois, determinados por factos materiais, sobretudo económicos (as relações de produção e troca entre os homens). Não é a filosofia, portanto, mas a economia de cada época a causa de todas as mudanças sociais e de todas as revoluções políticas.

A Luta de Classes

A luta de classes é um facto e uma fatalidade histórica (senhores e escravos; patrícios romanos e plebeus; barões e servos; nobreza feudal e burguesia; capitalismo e proletariado, foram os interventores nas várias épocas).

A Mais–Valia

Só o trabalho cria riqueza. O capital nada cria; ele próprio é criado pelo trabalho. Mas o trabalhador não recebe o total da sua produção. Há uma diferença entre o que ele recebe e o que ele produz.
O que o trabalhador recebe, salário (o suficiente para a manutenção e reprodução do trabalhador) é muito menor do que o valor criado (ou acrescido) pelo trabalho. Essa diferença, da qual se apropria o capitalista, é a mais-valia.
Com a evolução tecnológica, das máquinas, aumenta consideravelmente a mais valia do capitalista. O trabalhador com o auxílio das máquinas produz muito mais em menos tempo e recebe em troca uma pequeníssima parte da mais valia que criou.

O valor do produto não é uma relação directa com o número de horas de trabalho. O capitalismo, permite que o proprietário dos meios de produção, máquinas, etc. se aproprie dessa mais valia enorme - entre o salário do trabalhador e o valor criado pelo seu trabalho.

O número de horas necessário para produzir o que é possível comprar é cada vez menor. Daí o aumento do desemprego uma vez que o capitalista não abdica de baixar o número de horas de trabalho na mesma proporção em que estas se reduzem pela ajuda das máquinas.
O capitalista prefere que haja desemprego para poder, ainda, baixar os salários, ganhando de duas maneiras o que lhe aumenta as mais valias de uma forma elevadíssima.

Não se trata, apenas, da exploração e da injustiça. A mais-valia é o que a sociedade poderia usar para benefício comum, para um mundo melhor. 

O trabalhador não ganha o suficiente para comprar o equivalente ao que produz. Logo, os artigos de consumo produzidos pelos trabalhadores se acumularão e não encontrarão compradores. É esta superprodução que provoca as depressões, ou crises, são criadas pelo sistema capitalista.
As crises produzem a miséria e esta, por sua vez, produzem as revoluções sociais.

Materialismo Dialético e Evolução Socialista

Como em tudo na vida, cada sistema económico tem um período de crescimento de maturidade e de decadência. No período de decadência começa a decompor-se devido às contradições internas, e portanto será substituido por um sistema oposto, que lhe assimila as qualidades positivas e substitui as negativas. A sociedade capitalista transformar-se-á, fatalmente, numa sociedade socialista. Mas também o socialismo será a transição para uma etapa superior; o comunismo que depois continuará em permanente aperfeiçoamento.

As “Leis” do Marxismo

Marx estabeleceu as seguintes leis, que constituem os fundamentos do socialismo marxista:

1) Lei de acumulação crescente dos capitais - Que obedece à seguinte fórmula: d-m=d’, onde d = dinheiro aplicado pelo capitalista; m = custo total da mercadoria e d’ = dinheiro aplicado + mais-valia.

Assim, quanto maior o número de operários e maior a utilização de máquinas e novas tecnologias, tanto maior o número de mais-valias e do seu montante total.

2) Lei da concentração capitalista - Os ricos ficarão cada vez mais ricos, e os pobres cada vez mais pobres. As classes médias serão proletarizadas. As empresas, cada vez mais amplas (monopólios, trustes, cartéis, etc), ficarão em número cada vez mais reduzido de proprietários e estes cada vez mais ricos.

3) Lei da expropriação automática - Chegará o dia em que, pela revolução social – ou mesmo pacificamente, pela pressão social e mediante umas simples assinaturas – todas as empresas passarão das mãos dos seus poucos acionistas-capitalistas para as do Estado socialista.

14 de Maio de 2011

O Problema Fundamental da Filosofia. Idealismo, Materialismo 


A pergunta fundamental da filosofia depende da forma como se coloca a relação entre a matéria e a consciência. Assim, as respostas assumem sempre uma concepção materialista ou idealista. Diante da pergunta se é o pensamento, a ideia, ou a matéria, a realidade, que determina a nossa compreensão do mundo, os filósofos foram levados a duas posições distintas.


Os primeiros homens, não sabendo explicar os fenómenos naturais, a sua origem, e a origem de todas as coisas, atribuíram a deuses com poderes extraordinários a origem de tudo. Os mitos, as fábulas e os rituais de todos os modelos de sociedades antigas mostram esse tipo de explicação do mundo.
Esta solução para explicar o que se desconhecia, foi naturalmente aceite e acabou por desenvolver nos homens a ideia da separação do que faziam e viam e do que conduzia os seus pensamentos, sonhos, desejos e tudo o que não conheciam.


Desse modo, se conceberam, a si próprios, como um ser composto de corpo (matéria) e alma (pensamentos ou ideias).


A explicação do mundo e dos fenómenos, assim como dos nossos pensamentos e da nossa existência eram vontade dos deuses. Nessa dualidade, a morte biológica, acabava o corpo, mas não acabava a alma, o espírito transcendia a materialidade.


Esta explicação, não científica, sobre o mundo deu origem ao idealismo. 


Contudo, vários pensadores, procuraram dar uma explicação científica do mundo e, à medida que encontraram soluções e explicações para vários fenómenos da natureza, consideraram que a matéria, era o elemento principal que determinava todo o resto. Estes deram origem às diferentes escolas do materialismo.



8 de Maio de 2011
Modos de Produção e Consciência

Em síntese simplificada, segundo Marx, o conjunto das relações de produção, dependem das formas de apropriação dos meios de produção existentes. Essas relações determinam a forma da troca e de distribuição dos bens produzidos. Todo isso constitui a «base real» sobre a qual se ergue uma «superestrutura jurídica e política». e a base material para uma superestrutura constituída pelas “ ideias” correntes na sociedade.

Sobre isto Marx escreveu o seguinte:

“O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu de fio condutor aos meus estudos, pode resumir-se assim: na produção social, os homens contraem determinadas relações necessárias e independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada fase de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção forma a estrutura económica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta a super-estrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência.
  
Ao chegar a uma determinada fase de desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade chocam-se com as relações de produção existentes, ou, o que não é senão a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade dentro das quais se desenvolveram até ali. De formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações convertem-se em obstáculos ao seu desenvolvimento. Abre-se, assim, uma época de revolução social. […]. As forças produtivas, porém, que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa criam, ao mesmo tempo, as condições materiais para a solução desse antagonismo. Com esta formação social se encerra, portanto, a pré-história da sociedade humana.” (Karl Marx, Prefácio - Introdução à Contribuição para a Crítica da Economia Política).

O sistema das relações de produção é o esqueleto da sociedade, no qual se mantém a sua unidade e integridade. As relações ideológicas dos homens, as suas concepções, os seus interesses políticos, os seus ideais morais revestem o esqueleto, formando um organismo social vivo e em desenvolvimento.
É este esqueleto que determina as ideias e atitudes dos indivíduos.


20 de Março de 2011
Revolução
Revolución
Es sentido del momento histórico;
es cambiar todo lo que debe ser cambiado;
es igualdad y libertad plenas;
es ser tratado y tratar a los demás
como seres humanos;
es emanciparnos por nosotros mismos
y con nuestros propios esfuerzos;
es desafiar poderosas fuerzas dominantes
dentro y fuera del ámbito social y nacional;
es defender valores en los que se cree
al precio de cualquier sacrificio;
es modestia, desinterés, altruismo, solidaridad y heroísmo;
es luchar con audacia, inteligencia y realismo;
es no mentir jamás ni violar principios éticos;
es convicción profunda
de que no existe fuerza en el mundo
capaz de aplastar
la fuerza de la verdad y las ideas.
Revolución es unidad, es independencia,
es luchar por nuestros sueños de justicia
para Cuba y para el mundo,
que es la base de nuestro patriotismo,
nuestro socialismo
y nuestro internacionalismo.

Fidel Castro Ruz (1ro de mayo del 2000)


Proletariado*
Actualizado em 15 de Fev.

O proletariado é aquela classe da sociedade que tira o seu sustento única e somente da venda do seu trabalho e não do lucro de qualquer capital; [aquela classe] cujo bem e cujo sofrimento, cuja vida e cuja morte, cuja total existência dependem da procura do trabalho e, portanto, da alternância dos bons e dos maus tempos para o negócio, das flutuações de uma concorrência desenfreada. Numa palavra, o proletariado ou a classe dos proletários é a classe trabalhadora do século XIX.

* de PRINCÍPIOS BÁSICOS DO COMUNISMO
1847, Friederich Engels

Na Roma Antiga, o rei Sérvio Túlio usou o termo proletarii para descrever os cidadãos de classe mais baixa, que não tinham propriedades e cuja única utilidade para o Estado era gerar proles (filhos) para engrossar as fileiras dos exércitos do império. O termo proletário foi utilizado num sentido depreciativo, até que, no século XIX, socialistas, anarquistas e comunistas utilizaram-no para identificar a classe dos sem propriedade.

O proletário não tem nenhum meio de vida excepto a sua força de trabalho (suas aptidões), que ele vende para sobreviver.
O proletário diferencia-se do simples trabalhador. Trabalhador é, em geral, o que pode vender os produtos de seu trabalho (ou vender o seu próprio trabalho enquanto serviço).
O proletário só vende sua capacidade de trabalhar (suas aptidões e habilidades humanas), e, com isso, os produtos de seu trabalho e o seu próprio trabalho não lhe pertencem. É propriedade do patrão que compra a sua força de trabalho (através do salário que lhe paga).

A existência de indivíduos privados de propriedade, privados de meios de vida, permite que os proprietários dos meios de produção (capitalistas) encontrem no mercado um objeto de consumo que age e pensa (as aptidões humanas), que eles consomem para aumentar seu capital. Ao vender sua força de trabalho, o proletário aliena-se de seus próprios atos e submete-os à vontade do comprador, que o domina (explora) e se apropria do seu trabalho (seus produtos) para vendê-los no mercado.

Com o capitalismo industrial, todas as relações sociais entre os indivíduos passaram a ser mediatizadas pelo mercado, que substituiu os laços comunitários que caracterizavam as sociedades anteriores. Todos os bens passaram a ser mercadorias, ou seja, o acesso a eles passou a ser permitido apenas a quem tivesse o dinheiro para comprá-los. Isso só foi possível mediante a chamada acumulação primitiva do capital, que se caracteriza por expulsões de camponeses de suas terras e pela destruição dos laços não-mercantis do artesanato urbano, formando uma massa de indivíduos destituídos de meios de produção e que nada tinham para oferecer ao mercado senão sua força de trabalho. Essa separação dos homens dos seus meios de produção é também chamada de proletarização e foi na maioria das vezes imposta pelas classes dominantes através do Estado. Os artesãos urbanos deixaram de poder concorrer no mercado com os capitalistas, cujos capitais rapidamente se acumulavam mediante o uso de força de trabalho dos proletários e pela extração da mais-valia que esta proporciona. A acumulação de capital permitia-lhes adquirir mais meios de produção, tecnicamente mais evoluídos podendo dessa forma lançar no mercado produtos mais baratos o que lhes permitia eliminar a concorrência dos artesãos. Esses artesãos falidos contribuíram para aumentar ainda mais a massa de proletários disponíveis para a indústria capitalista nascente. A formação, manutenção e o controle (através do aparelho repressivo do Estado) de uma massa de indivíduos destituídos de tudo e tendo somente a sua força de trabalho para vender (qualificada ou não) é a condição sine qua non da acumulação do capital em qualquer lugar do mundo, até aos tempos presentes, pois a força de trabalho é a única mercadoria que produz mais-valia.
* Adaptado de Wapedia Wiki.
18 de Outubro de 2011